"O rés-do-chão não serve à literatura. Está muito bem para a construção civil, é cómodo para quem não gosta de subir escadas, útil para quem não pode subir escadas, mas a literatura há que haver andares empilhados uns em cima dos outros. Escadas e escadarias, letras abaixo, letras acima.
Folhei o livro A Ilha do Dr. Moreau, mas pouse-o de seguida, sem sequer ter lido unm parágrafo. Estava tão nervoso que decidi adiar. Não seria por esse livro de Wells que iniciaria as minhas leituras. Percebi que deveria começar devagar, por outros livros, em vez daquele fatal, o livro que devorou o meu pai. e durante o primeiro semestre desse ano lectivo fui lendo livro atrás de livro, aprendendo a perder-me nessas leituras. Foram meses de grande excitação com alguns problemas em casa. Chegava sistematicamente atrasado para o jantar e isso fazia com que a minha mãe se zangasse comigo."
Vivaldo Bonfim é um escriturário entediado que leva romances e novelas para a repartição de finanças onde está empregado. Um dia, enquanto finge trabalhar, perde-se na leitura e desaparece deste mundo. Esta é a sua verdadeira história — contada na primeira pessoa pelo filho, Elias Bonfim, que irá à procura do seu pai, percorrendo clássicos da literatura cheios de assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos feitos de letras.