O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move.
Pina Bausch
A história de Pina é apresentada como uma herança artística. Não
são necessárias dezenas de fotos de infância, linhas do tempo, conversas com
familiares ou narrativa linear. A cada apresentação e a cada impressão da
artista que os dançarinos tecem, uma nova peça do quebra-cabeça se encaixa. No
fim, temos um retrato metalinguístico e sensorial que pode parecer estranho,
mas que se apreciado com atenção, traz um grande número de reflexões sobre nós,
como indivíduos, além de um encanto quase infantil sobre a artista, a
dança e a relação entre os corpos.
A aura criada por Wim Wenders no filme é psicológica e inquisitiva,
atinge cada espectador com significados diversos, mesmo que nenhuma dança
precise ser dotada de significado. A montagem de atrações funde maravilhosamente
os espaços desconexos e a edição e mistura de som trabalham constantemente seu
impacto e função dramáticas, de modo que o filme consegue ser leve e dar uma
impressão quase nula do tempo percorrido. Mesmo para os que são totalmente
alheios ao mundo da dança, Pina apresenta-se como uma experiência
sensorial tão agradável que é quase impossível não acompanhar alguns
números e terminar o filme sentindo-se leve, ou como se pudesse explodir
de sentimentos a qualquer instante.