Potiche - Esposa Troféu é uma comédia que decorre no norte da
França em 1977 e que assume posições vanguardistas para aquela época, como os
direitos das mulheres e do operariado, para defender uma tradição francesa que
em 2011 está em crise, a do humanismo.
Suzanne (Catherine Deneuve) é a esposa troféu, casada há 30 anos com o
industrial (Fabrice Luchini) que administra a fábrica de guarda-chuvas do pai
dela. Desencadeada uma greve, os oprários fazem o patrão de refém, e Suzanne precisa
agir, em parceria com o político de esquerda (Gerard Depardieu) que fora seu
amante na juventude. Com o tempo, a ex-dona de casa modelar, mãe e avó,
descobre que tem vocação para liderar - e idade para amar.
É muito inteligente a forma como o roteiro fortalece as mulheres
politicamente - são os anos do feminismo; na televisão os homens temem que elas
ocupem os seus empregos - e ao mesmo tempo reforça-lhes a feminilidade. Não é
por acaso que as cores setentistas, o clima de sing-along e, claro,
os guarda-chuvas remetem ao musical que impulsionou a carreira de
Deneuve, Os Guarda-Chuvas do Amor, de 1964. Ozon presta deferência à
atriz, que com quase 70 anos ainda tem pernas para subir elegantemente para um
camião, como se ela personificasse todas as tradições francesas que importam.
No final, Potiche não professa só o humanismo da cartilha
esquerdista, contrário às privatizações, em defesa da pequena indústria
nacional (defesa hoje em crise no país porque se confunde com o protecionismo e
a xenofobia), mas um humanismo do indivíduo. Ainda que muita gente veja Deneuve
como uma instituição da França (que como toda instituição deve ser preservada)
em Potiche ela é mais um ícone da independência, um símbolo liberal.