Eis uma agradável surpresa. Guillen descreve nesta obra o contexto científico, pessoal, cultural e social que rodearam cinco equações fundamentais, ao mesmo tempo que explica o seu profundo significado e alcance científico. As cinco equações referem-se à lei da gravitação de Newton, à lei da pressão hidrodinâmica de Bernoulli, à lei da indução electromagnética de Faraday, à segunda lei da termodinâmica de Clausius e à teoria da relatividade restrita de Einstein. O estilo literário de Guillen, com passagens em que tomou obviamente liberdades de romancista, faz com que este seja um ensaio que se lê com o entusiasmo e a expectativa de um bom romance.
Um dos lugares-comuns mais inquietantes é o de que os génios são loucos, isto é, pessoas de baixo perfil moral, de atitudes estranhas e comportamentos esquisitos. Este lugar-comum é inquietante porque é como se os seres humanos verdadeiramente inteligentes, aqueles que elevaram a humanidade acima da brutalidade animal, fossem afinal bestas humanas que num esforço derradeiro tentassem ir mais longe do que o permitido pela nossa natureza, como uma máquina que se desconcerta num esforço supremo de ir mais longe do que as suas engrenagens o permitem. Além de este lugar-comum pintar um quadro nada lisonjeador da natureza humana, tem resultados terríveis porque todo o pateta com pretensões a génio sente que, se tiver atitudes suficientemente bizarras e um perfil moral onde se destaca um grande amor ao umbigo, está mais próximo de ser génio. Quero acreditar que este lugar-comum não corresponde à verdade e que, estatisticamente, o número de génios loucos não é maior do que o número de génios sensatos — acontece apenas que os loucos dão mais nas vistas e que é mais fácil para nós, simples mortais medianamente inteligentes, olhar para um génio como um louco do que como uma demonstração da nossa insignificância.
Dos cinco génios aqui retratados, os únicos conformes ao lugar-comum são Newton — uma autêntica besta humana destruída pela frustração — e o pai de Daniel Bernoulli — um animal sedento de glória que foi capaz de roubar o seu próprio filho para tentar colher os louros que não merecia. Os outros são lições de vida: Daniel Bernoulli, pela atitude sempre tolerante com a besta de pai — e «amigos» — que o destino lhe trouxe; Faraday, pela pura vitória do génio e da sensatez humilde e de alto perfil moral; e Clausius — sobretudo — pela imensa bondade e sabedoria, pela capacidade dadivosa e pelo penetrante olhar de águia, triste e consternado, sobre o destino final e irreversível do universo. Alguém conhece uma biografia de Clausius que queira recomendar-me?
Uma última nota: a tradução de Helder Aranha é excelente e revela um autêntico cultor da língua portuguesa.
Desidério Murcho, in Critica revista de filosofia