Advertência:
Este
livro contém particularidades irritantes para os mais acostumados.
Ainda mais para os menos. Tem caricaturas. Humores. Derivações. E
alguns anacolutos.
Se o leitor acha que um livro que nos faz rir
às gargalhadas não pode ser um excelente romance,
leia este
“Era Bom que Trocássemos Umas
Ideias sobre o Assunto” (1995), de Mário de Carvalho,
é, provavelmente, o romance mais divertido da ficção
portuguesa contemporânea. É também outras
coisas, mas bastaria esta para justificar a leitura. Fazer
rir apenas com palavras escritas é bastante mais difícil
do que se poderá imaginar.
"Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias Sobre o
Assunto" conta-nos as aventuras e desventuras, mais as
segundas do que as primeiras, de um homem que quer aderir
ao PCP e que não consegue. E, também, as aventuras
e desventuras, mais as primeiras do que as segundas, de uma
jovem de ignorância exemplar que quer ser jornalista.
E que consegue.
Grande parte da genialidade deste
romance reside no facto de Mário de Carvalho expor de forma
bem-humorada uma visão extremamente pessimista da realidade: o saber é
desprezado em benefício da imagem, as ideologias são submetidas às
conveniências, aos interesses pessoais, o mérito é substituído pelo
arrivismo oportunista. Exemplo maior deste profundo lamento é a crítica
irónica mas mordaz ao Partido Comunista (o livro foi publicado em 1995)
onde o ingénuo Joel quer inscrever-se mas depara com os maiores
obstáculos, devido ao elitismo ideológico e à sua fiel guarda-costas, a
burocracia.
Mário de Carvalho é
um escritor único. Ainda por explicar está o facto de não ser
normalmente incluído entre os grandes nomes da literatura portuguesa
contemporânea. Talvez porque Mário de Carvalho não gostasse de vir a
ser homem de Panteões; talvez porque nunca tivesse desejado ser
escritor de guiões de telenovelas disfarçados de romances de 500
páginas; talvez porque os nossos sorumbáticos, sisudos, sonolentos e
cinzentos críticos literários não gostem de quem sorri escrevendo.
Talvez os nossos Torquemadas da literatura não apreciem o riso. Afinal
de contas esse é uma das grandes marcas da nossa História: o riso é a
antecâmara do pecado. É sempre preferível a serenidade, a paz do estar
bem com todos.