sexta-feira, 25 de março de 2011

Pequenos prazeres

"-Quantos volumes tem aqui?- perguntei-lhe.
-Para dizer a verdade, já lhe perdi a conta. Mas presumo que à volta de dezoito mil. Desde que me lembro, comecei a comprar um livro atrás  do outro. A biblioteca que se constrói é uma vida." "Seguimos certos temas e, ao fim de um certo tempo, terminamos por definir mundos; por desenhar, se preferir, o percurso de uma viagem, com a vantagem de conservarmos os seus rastos. Não é simples. É um processo pelo qual completamos bibliografias, preocupados com a referência de um livro que não temos, conseguimo-lo, deixando-nos conduzir para outro."
" - Mas infelizmente - disse- quantas horas diárias posso dedicar à leitura? No máximo, quatro, cinco horas. Repare. Trabalho das oito da manhã às cinco da tarde num cargo de responsabilidade. Mas anseio para que chegue a hora de entrar aqui. Uma gruta, se concorda comigo, e passar um pouco tempo ditoso até às dez, quando habitualmente subo para jnatar."

A Casa de Papel é um livro sobre pessoas que vivem para os livros; pessoas cujos destinos se cruzaram sobre livros, cujas vidas ficaram marcadas por essa paixão inexplicável e maravilhosa.
Há destinos que se desenham em torno de um livro; vidas determinadas por um romance que alguém escreveu sobre papel e que outro alguém escreve sobre os dias e noites do destino.
Mas também há livros que mentem; que enganam e magoam; livros falsos, escritos sem alma. Mas não é desses que vive quem lê por paixão.
Carlos Brauer, leitor compulsivo, incurável, adicto, afirmou: “os livros são a minha casa”. E um dia levou essa máxima à letra e fez uma casa com livros. Livros e cimento. Sonhos de papel e betão. Uma casa sonhada e vivida, sobre as areias da paixão que o possuiu. Das paixões que o devoraram: os livros e Bluma, a mulher que o marcou sobre a Linha da Sombra, de Conrad.
Carlos Brauer, também ele, atravessará a sua Linha da Sombra; muito para lá de uma vida confinada ao real; uma vida que construiu sobre o fantástico mundo dos livros.
Este é um livrinho fantástico: lê-se de um fôlego, enche a alma de sonho mas deixa um sabor amargo a pouco.
Mas quem lê esta pequena obra-prima ficará sempre com a certeza de que os livros unem pessoas.
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