terça-feira, 7 de junho de 2011

«O melhor é deliciar-se, sem pressa de aprofundar»

Uma borboleta numa espingarda está a fazer pouco dela. A sua pontaria é gozada pelo voo quebrantado que, caia onde cair, traz consigo o centro atingido. Onde pousa a borboleta, ali é o centro. O homem sacudiu-a com um movimento lento e um sopro para a mandar embora.
A mãe tinha sido abatida pelo caçador. Nas suas narinas de cria entranhou-se o cheiro a homem e a pólvora. Órfão juntamente com a irmã, sem um grupo por perto, aprendeu sozinho. Cresceu acima do normal para os machos da sua espécie. A irmã foi apanhada pela águia num dia de inverno e de nuvens. Pressentiu-a suspensa sobre eles, isolados num pasto a sul, onde resistia alguma erva amarelecida. A irmã pressentia a águia mesmo sem a sua sombra na terra, de céu fechado.

Para um dos dois, não havia salvação. A irmã lançou-se a correr na direcção da águia, e foi apanhada. Uma vez sozinho, cresceu sem freios nem companhia. Quando se sentiu pronto, foi ao encontro do primeiro grupo, desafiou o macho dominante e venceu. Tornou-se rei num dia e em duelo.
O Peso da Borboleta de Erri de Luca

Críticas de imprensa
«Um livro tão delicado quanto forte.»
Avvenire

«Um duelo poético como Moby Dick.»
La Repubblica

«O melhor é deliciar-se, sem pressa de aprofundar, a pequena epopeia deste conto, silencioso e estridente, como sabe ser uma paisagem de montanha intocada pelo homem.»
Corriere della Sera

«Um conto repleto de pura poesia, talvez já escutada, e imerso na natureza.»
Il Salvagente




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