sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Potiche: Esposa Troféu




Potiche - Esposa Troféu é uma comédia que decorre no norte da França em 1977 e que assume posições vanguardistas para aquela época, como os direitos das mulheres e do operariado, para defender uma tradição francesa que em 2011 está em crise, a do humanismo.
Suzanne (Catherine Deneuve) é a esposa troféu, casada há 30 anos com o industrial (Fabrice Luchini) que administra a fábrica de guarda-chuvas do pai dela. Desencadeada uma greve, os oprários fazem o patrão de refém, e Suzanne precisa agir, em parceria com o político de esquerda (Gerard Depardieu) que fora seu amante na juventude. Com o tempo, a ex-dona de casa modelar, mãe e avó, descobre que tem vocação para liderar - e idade para amar.
É muito inteligente a forma como o roteiro fortalece as mulheres politicamente - são os anos do feminismo; na televisão os homens temem que elas ocupem os seus empregos - e ao mesmo tempo reforça-lhes a feminilidade. Não é por acaso que as cores setentistas, o clima de sing-along e, claro, os guarda-chuvas remetem ao musical que impulsionou a carreira de Deneuve, Os Guarda-Chuvas do Amor, de 1964. Ozon presta deferência à atriz, que com quase 70 anos ainda tem pernas para subir elegantemente para um camião, como se ela personificasse todas as tradições francesas que importam.

No final, Potiche não professa só o humanismo da cartilha esquerdista, contrário às privatizações, em defesa da pequena indústria nacional (defesa hoje em crise no país porque se confunde com o protecionismo e a xenofobia), mas um humanismo do indivíduo. Ainda que muita gente veja Deneuve como uma instituição da França (que como toda instituição deve ser preservada) em Potiche ela é mais um ícone da independência, um símbolo liberal.
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