sábado, 28 de abril de 2012

Mário de Carvalho é um escritor único

Advertência:
Este livro contém particularidades irritantes para os mais acostumados. Ainda mais para os menos. Tem caricaturas. Humores. Derivações. E alguns anacolutos.


Se o leitor acha que um livro que nos faz rir às gargalhadas não pode ser um excelente romance, leia este
“Era Bom que Trocássemos Umas Ideias sobre o Assunto” (1995), de Mário de Carvalho, é, provavelmente, o romance mais divertido da ficção portuguesa contemporânea. É também outras coisas, mas bastaria esta para justificar a leitura. Fazer rir apenas com palavras escritas é bastante mais difícil do que se poderá imaginar.
  
"Era Bom Que Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto" conta-nos as aventuras e desventuras, mais as segundas do que as primeiras, de um homem que quer aderir ao PCP e que não consegue. E, também, as aventuras e desventuras, mais as primeiras do que as segundas, de uma jovem de ignorância exemplar que quer ser jornalista. E que consegue.

Grande parte da genialidade deste romance reside no facto de Mário de Carvalho expor de forma bem-humorada uma visão extremamente pessimista da realidade: o saber é desprezado em benefício da imagem, as ideologias são submetidas às conveniências, aos interesses pessoais, o mérito é substituído pelo arrivismo oportunista. Exemplo maior deste profundo lamento é a crítica irónica mas mordaz ao Partido Comunista (o livro foi publicado em 1995) onde o ingénuo Joel quer inscrever-se mas depara com os maiores obstáculos, devido ao elitismo ideológico e à sua fiel guarda-costas, a burocracia.
Mário de Carvalho é um escritor único. Ainda por explicar está o facto de não ser normalmente incluído entre os grandes nomes da literatura portuguesa contemporânea. Talvez porque Mário de Carvalho não gostasse de vir a ser homem de Panteões; talvez porque nunca tivesse desejado ser escritor de guiões de telenovelas disfarçados de romances de 500 páginas; talvez porque os nossos sorumbáticos, sisudos, sonolentos e cinzentos críticos literários não gostem de quem sorri escrevendo. Talvez os nossos Torquemadas da literatura não apreciem o riso. Afinal de contas esse é uma das grandes marcas da nossa História: o riso é a antecâmara do pecado. É sempre preferível a serenidade, a paz do estar bem com todos.

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