segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Numa escrita que flui, poderosa e rica


M

atilde tinha uns olhos escuros, brilhantes, profundos como a noite. O cabelo, da cor das Deusas do Olimpo. As asas, de ouro, bordadas a fios de seda. Os pensamentos, povoados de sonhos. O desejo, incandescente, de voar, de rasgar, horizontes cada vez mais altos. Matilde, como Ícaro, era dotada de asas, e como Ícaro, por inusitada coragem, experimentou a dor de chegar perto do sol. Do mesmo Sol que dá a vida, e que a tira. Viveria tudo outra vez. Exactamente da mesma forma. Não trocaria o que viveu com Vladimir Krapov por nenhuma outra existência do fogo que sempre queima as asas que ousam desafiar as leis do universo e da vida. A sua luz era tão intensa que Matilde duvidava não ser ela própria criação daquele moscovita de quarenta e cinco anos que um dia lhe arrebatou a alma. Este novo romance de Joana Miranda oferece-nos momentos de puro deleite, numa escrita que flui, poderosa e rica que já nos tinha sido dada a apreciar nas suas obras anteriores – A Outra Metade da Laranja, Sem Lágrimas Nem Risos e O Espelho da Lua.



entrevista

Não se Escolhe Quem se Ama
Uma personagem que aparece e me pede uma história

P –- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Não se Escolhe Quem se Ama»?
R – Este livro representa mais um passo num percurso, um esboço, uma tentativa, uma procura de sentido num caminho, num trajecto sem ponto de chegada definido, trajecto longo, pouco linear, tecido entre vacilações, hesitações e medos. Mas que espero progressivamente mais iluminado.

P – Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R - Como Mia Couto dizia numa entrevista a Maria João Avillez “Há uma personagem que aparece e me pede uma história”. Um dia acordei com Matilde no meu pensamento e não descansei enquanto não lhe arranjei uma história. A ideia de base é a de que a vida nem sempre corre como desejámos e sonhámos. Existem muitas surpresas más pelo caminho e a sabedoria reside no ser capaz de ultrapassar os obstáculos e de os converter em coisas boas, em encontrar um equilíbrio e um sentido subjacente ao caos aparente.

P – Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R - Depois do luto que se segue a cada novo livro, mergulho num novo livro. De que género, deixo por desvendar.

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Joana Miranda, Não se Escolhe Quem se Ama
Editorial Presença

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