Ana Bravo, retirou da prateleira o livro «Resumo», de José Carlos Ary dos Santos, e disse «O Poema Original».
Original é o
poeta/que se origina a si mesmo/que numa sílaba é seta/noutra pasmo ou
cataclismo/o que se atira ao poema/como se fosse ao abismo/e faz um filho às
palavras/na cama do romantismo.
Original é o
poeta/capaz de escrever em sismo. Original é o poeta/de origem clara e comum/que sendo de toda a parte/não é de lugar algum.
O que gera a própria arte/na força de ser só um/por todos a quem a sorte/faz devorar em jejum.
Original é o poeta/que de todos for só um.
Original é o poeta/expulso do paraíso/por saber compreender/o que é o choro e o riso; aquele que desce à rua/bebe copos quebra nozes/e ferra em quem tem juízo/versos brancos e ferozes.
Original é o poeta/que é gato de sete vozes.
Original é o poeta/que chega ao despudor/de escrever todos os dias/como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia/como se fosse mulher/e nela emprenha a alegria/de ser um homem qualquer.