oOjornalista Hugo Neutel lê o poema «Pastelaria», de Mário Cesariny.
Afinal o que
importa não é a literatura/nem a crítica de arte nem a câmara escura/Afinal o
que importa não é bem o negócio/nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de
ócio/Afinal o que importa não é ser novo e galante - ele há tanta maneira de
compor uma estante!
Afinal o que
importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício/e cair
verticalmente no vício/Não é verdade rapaz? E amanhã há bola/antes de haver
cinema madame blanche e parola
Que afinal o
que importa não é haver gente com fome/porque assim como assim ainda há muita
gente que come
Que afinal o
que importa é não ter medo/de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de
muita gente: Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o
que importa é por ao alto a gola do peludo/à saída da pastelaria e, lá fora -
ah, lá fora! - rir de tudo
No riso admirável de quem
sabe e gosta/ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.