sábado, 17 de maio de 2014

«Velhos de Lisboa»

«Velhos de Lisboa» - TSF

Alexandre O"Neill, «Velhos de Lisboa».

Em suma: somos os velhos, cheios de cuspo e conselhos, velhos que ninguém atura/a não ser a literatura/E outros velhos. (os novos/ afirmam-se por maus modos com os velhos). Senectude/é tempo não é virtude... Decorativos? Talvez... Mas por dentro "era uma/Vez..." Velhas atrozes, saídas/de túgurios impossíveis, disparam, raivoso, o dente/contra tudo e toda a gente. Velhinhas de gargantilha/visitam o neto, a filha, e levam bombons de creme ou palitos "de la reine". A ler p"lo sistema Braille/Ó meus senhores escutai! um velho tira dos dedos/profecias e enredos. Outros mijam, fazem esgares, têm poses e vagares/bem merecidos. Nos jardins, descansam, depois, os rins.

Aquele outros (os coitados!)/imaginam-se poupados/pelo tempo, e às escondidas/partem p"ra novas sortidas... Muito digno, o reformado/perora, e é respeitado/na leitaria: "A mulher/é em casa que se quer!" Velhotes com mais olhinhos/que tu, fazem recadinhos, pedem tabaco ao primeiro/e mostram pouco dinheiro... E os que juntam capicuas/e fotos de mulheres nuas? E os tontinhos, os gaiteiros, que usam cravo e põem/cheiros?/(velhos a arrastar a asa/pago bem e vou a casa)/E a velha que se desleixa/e morre sem uma queixa? E os que armam aos pardais/Nessas hortas e quintais?/(Quem acerta co"os botões/deste velho? Venha a cidade/ajudá-lo a abotoar/que não faz nada de mais!)/

Velhos, ó meus queridos/velhos, saltem-me para os joelhos: vamos brincar?
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